EDUCAÇÃO em 1974/75-como se fez a reforma curricular e se atualizaram curricula na Revolução de 25A - Mário Dionísio/Eduarda Dionísio - Passageiro clandestino IV/Notas I e II

 

MÁRIO DIONÍSIO

PASSAGEIRO CLANDESTINO IV

capa Passageiro Clandestino IV 

4º volume do diário inédito de Mário Dionísio (1974-1980)

com apontamentos de viagens de 1976 e 1978
Com introdução de Eduarda Dionísio e índice de nomes e assuntos.

 

264 pp

 

Col. Mário Dionísio 14

Edição Casa da Achada – Centro Mário Dionísio

Abril 2023

 

[Entre Palavras e Cores] Centro Mário Dionísio (centromariodionisio.org)

Pois, dormíamos muito pouco e aprendiamos muito depressa....

Digo todos, porque obviamente não foi só a Comissão que trabalhou denodadamente e desvairadamente com «a consciência plena de que nenhuma reforma se pode elaborar em dois meses e de que, entretanto, têm, pelo menos de evitar-se os males maiores" (p. 124 de NOTAS I de ED)

Não! O Plano tinha um razoável fio condutor de base científica assentando em:

  • seguir e cumprir o guião do programa do MFA («integrar todo o ensino no espírito do programa do MFA», vidé p. 115 das NOTAS I de ED e as orientações recebidas do Conselho de Ministros (ao tempo presidido pelo coronel Vasco Gonçalves (VG) e pelo Ministro Vitorino Magalhães Godinho (VMG) - «a comissão limitará a sua ação ao conjunto de medidas de emergência e, portanto, provisórias, a tomar para o próximo ano letivo» (NOTAS I de ED a p. 94);
  • múltiplas reuniões de debate e discussão (algumas largamente participadas por dezenas de professores e seguindo um guião previamente enviado às escolas (nota 40 das Notas I de ED); 
  • um inquérito (que consta amplamente das notasI de ED e que entre outras coisas demandava dos professores:«todos os professores de cada disciplina chegarão a uma conclusão de grupo e preencherão um exemplar por cada ano da mesma disciplina»; foi enviado em 22/06/1974 segundo ilustração a pag. 30 e 31;
  •  contraponto à reforma de Veiga Simão que vinha do anterior regime e que criara as escolas técnicas;

Segundo as notas a pag 33 de NOTASI de ED existiam:

  • 10304 professores do preparatório;
  • 8830 do ensino técnico (escolas técnicas);
  • 5150 do ensino liceal. 
A reforma Veiga Simão que criara a separação do ensino técnico do liceal era o grande cavalo de batalha de MD, mas também a purga a fazer nos programas e na estrutura curricular adequando-a às obrigações democráticas e eliminando os «chavões e mentiras» do anterior regime. MD era também lutador contra a falta de «saneamento» nas mentalidades de quadros e funcionários do MEN que quase integralmente se mantinham no seus postos. Para MD «a questão do sanemento não se liga só a imperativos de ordem estritamente política mas também, e sobretudo, à mentalidade que tais indivíduos adquiriram...." (p.89 das NOTAS I de ED) 

Por analogia lembro aqui a comissão de saneamento nos ramos das FA's que, particularmente no caso da Marinha de deparou com barreiras enormes e poucas "purgas" executou. Em revanche, logo que a "normalidade" voltou, um designado "grupo dos 80" acoitou-se em lugares chave da gestão de pessoal e exerceu represálias nas promoções de muitos dos oficais e sargentos que se envolveram no MFA. 

O curso a que pertencia (Campos Rodrigues,1971) produziu a ação de luta, porque foi disso que se tratou,  mais significativa e diferenciada daqueles anos. Os anais do CMN do 2º semestre de 2022 trazem a história integral. Na verdade o nosso curso apanhou o ciclo do chamado «azar dos távoras» e, nalguns casos, mais de 12 anos se passaram no mesmo posto de 1º tenente até conseguirmos uma portaria de excepção que nos promovesse  a Todos por direito e não por vaga, que não existiam. Est]avamos em finais dos anos 70. Ah, excepto para a Classe de Marinha! que subiu na hierarquia normalmente. Esta diferença de classes, que poderei designar mais propriamente por elitismo e protecionismo da Classe de Marinha sobre as demais é uma diferença entre Pessoas que não se concebe e que ainda subsiste. O mérito e a competência não são a razão essencial de uma promoção? Nas FAs ainda não, como noutros setores da adminsitracao publica.

Alguns sairam e outros foram arredados de postos de relevância e preteridos nas promoções. (eu fora um dos eleitos pelos meus pares, sempre com votações significativas que muito me animaram e orgulharam, para o conselho de promoções na Armada. E sei bem o que escrevo porque apesar de ter voz e voto, normalmente, estava em minoria nessas reuniões).  Aprendemos? 

"O MFA quer levar a país para o socialismo em liberdade.  É indispensável prestar-lhe toda a colaboração. Não é justo recusarmo-nos aos maiores sacrifícios. Estou de acordo e quase entusiasmado, mas recuso". (p.33) O quê? perguntarão. Pois o cargo de Ministro da Educação (convidado em 17 de março de 1975 pelo 1º ministro VG. E porque recusa MD? pois "porque me falta um plano de ação, de tal modo a situaçõo do ensino chegou ao caos, e sobretudo porque não tenho uma equipa nem vejo maneira de organizá-la". 

Mais tarde, já no governo presidido pelo almirante Pinheiro de Azevedo (VI e último governo provisório de 19/09/1975 a 22/07/1976)  MD é novamente convidado para MEC. Desloca-se propositademente de Ranholas, onde estava na sua casa de férias, a Belém) . É recebido e aconselhado a ouvir previamente Mário Soares antes de falar com o 1º ministro. Por quem? pois, pelo 1º tenente Pires Neves, hoje vice almirante na Reforma. MD volta a recusar pelos mesmos motivos e vai ser MEIC (ministro da educação e da investigação cientifica), o coronel Vítor Alves - o "pau para toda a obra"- do MFA.

CAOS: sim, ali e naquele momento, era apropriado falar em caos no ensino. Hoje em dia, estamos em 2023, sucedem-se greves de professores e assistentes operacionais nas escolas para reinvindicar o tempo de serviço retirado algures anos atrás por um governo de direita e os telejornais e as 1ª paginas de jornais  e também os dirigentes sindicais e alguns lideres de oposição (já existe um partido de extrema direita em Portugal, valha-nos a senhora dos iluminados!) usam aquela palavra amiúde para descrever a situação na E&F&A em Portugal. Ignorantes ou peticionários?

 

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