Entrevista na newsletter da ANQEP - novembro2017
EPALE - Electronic Platform for Adult Learning in Europe
P. Entre outros cargos, foi vice-presidente da
Associação Portuguesa de Gestão de Pessoas. De que forma uma boa gestão de
pessoas é essencial para o desenvolvimento das empresas, do país e da
internacionalização?
R.A intervenção da APG, associação quinquagenária, pauta-se
exatamente por uma visão holística do papel dos gestores de Pessoas, alinhando o
negócio ou a missão com as competências, desejos e anseios dos seus
colaboradores, sempre num clima de felicidade e de harmonia e pugnando pela
relevância dos contextos e ambiente de trabalho e o respeito pelos direitos e
da Lei. O seu lema é "o melhor do mundo são as Pessoas" e esta frase
ilumina a minha resposta.
Como é que a
Aprendizagem ao Longo da Vida (ALV), neste contexto, pode contribuir para
o aumento do potencial das pessoas?
O sentido integral de ALV (aprendizagem que vai desde que se
nasce até que se morre) atribui ao ser humano a capacidade distinta de
qualquer outro ser de se mover pela curiosidade e inovação que desperta e nasce
da sua capacidade enorme de Aprender. E aprender constantemente, consciente e
inconscientemente. Todos/as temos o Direito de Aprender e, na minha visão, ela
deve ser considerada no Plano Individual (cada Pessoa aprende de modo
diferente, de formas diversas e em contextos diferenciados) integrando um Plano
Nacional e Europeu (porque somos cidadãos europeus também) de desenvolvimento
Pessoal. Em sentido radical pode mesmo caminhar-se para um Ministério da ALV
que integre uma visão integral do ser Humano enquanto ser aprendente e
substitua a dispersão da Educação-ensino profissional-ensino superior- ou até
outras designações como a da Educação de Adultos ou de Ensino Vocacional. É
hora de sermos precisos e corretos.
Há quem o considere “um
visionário” nas temáticas da formação e da aprendizagem. Acha que a sua
perspetiva pode ser vista como mainstream no que se refere à ALV? Porquê?
Afirmativo, tenho ao longo da vida profissional mais
recente (de 17 anos de dedicação exclusiva ao assunto) sido confrontado com os
medos de muitos decisores e colegas que usam essa palavra para, em sentido
estrito, quererem afirmar que uma ideia ou inciativa a minha está no domínio do Impossível, ou quase a roçar o "milagre". Como
sou perseverante (alguns preferem usar "teimoso") após
conseguida encontro uma felicidade enorme por ter superado a tal barreira, em
especial porque nunca o fiz sozinho (verão que sempre trabalhei com equipas em equipa). Isto encontra uma explicação concreta. Quando em 1999 abracei
a causa da Tecnologia Educativa e fui, por aí adiante sendo pioneiro (dirão algum missionário) no eLearning e mais recentemente na Teoria de Jogos na
Aprendizagem. Mais recentemente com a retomada do conceito de ALV (projeto
europeu LLL-HUB) e de ser-me a solução para o Homem que aprende com
máquinas e que as usa no seu benefício e agora com tempo para Ler e Escrever e
Refletir (no momento em que existe destruição do tempo «lento» e crise do
espaço e da privacidade, com perda até de autonomia sobre o próprio Corpo)
faço os possíveis para colocar ao serviço, que vejo agora foi a razão
principal da minha forma de ser: servir, o saber de experiência feito e
desse olhar sempre com olhos no futuro, mantendo-me como dinossauro sobrevivido.
O que lhe parece mais
necessário e prioritário em termos de educação e formação perante as ameaças e
desafios da nova (r)evolução industrial (indústria 4.0)?
Escrevi ontem um curto
texto que terminava assim:
Existe um fenómeno global de merchandising digital da
educação/formação estando em movimento rápido e avassalador (web summit vinci). Grandes empresas
digitais e, as do GAFAM em particular (Google, Amazon, Facebook, Apple e
Microsoft) impõem os seus padrões na educação, introduzindo equipamentos
escolares, mas também práticas de ensino automáticas impulsionadas pela
IA-inteligência artificial, com sinal visível nos Robots aprendentes e com
emoções e que agora também são capazes de ensinar (exemplo em desenvolvimento
na Universidade do Minho em cooperação com a BOSCH). Estejam atentos aos
próximos movimentos e esperem-lhe pela pancada! Vai ser forte e exigente!
A solução para ser coerente (embora já não careça de o ser) está nas associações em que militamos e que fazem parte da paupérrima "sociedade civil" e que precisamos de as (re) Fazer, valorizando a opinião e a sensibilidade popular e dos agentes de Conhecimento que Portugal detém e de que ainda carece muito. A solução na acessibilidade à aprendizagem (uma vez mais atenção----não escrevi Formação nem Educação) por Todos/as é que se possa aceder a ambientes e contextos favorecedores e motivadores de liberdade de aprender, reforçando o Estado o seu papel de Avaliador, Certificador e Regulador e de interventor, consequente e decisivo, no plano individual de aprendizagem.
Um dos projetos que
integrou relacionados com a ALV foi o Lifelong Learning Hub (LLH). Em
traços gerais, como definiria esta plataforma e quais as suas vantagens?
Foi o mais recente (e último) e resultou da tal teimosia,
enquanto VP da plataforma europeia EUCIS LLL (hoje Lifelong Learning Platform
que é umbrella that gathers more
than 40 European organisations), de que ela deveria liderar um Projeto
Europeu nesta área. Em Portugal nascia (ainda não saiu do Papel)
a iniciativa de se criar um Observatório Europeu para a ALV e a APG desenhou,
acionou, avaliou e assumiu a tarefa de disseminação/comunicação do projeto. Não
nos saímos nada mal....e a Plataforma alcançou resultados fantásticos,
nomeadamente, de reforço da sua audição e proximidade com o Comissário e a DG
da DGEAC da Comissão e de reconhecimento (saber fazer) perante os seus pares.
Recentemente integrou um
leque de 8 embaixadores da EPALE. Afirma que o seu contributo, no âmbito
desta plataforma, pretende ser, em especial, o de colocar “no terreno a
relevância das competências digitais e da aprendizagem máquina que a
inteligência artificial agrega, com preocupação social e humana”. Como
encara este desafio?
Com a humildade pedagógica que me carateriza de que pouco sei e posso, mas aquilo que possa fazer, deve acrescenta valor. As minhas intervenções nos espaços da plataforma (blogues e comunidades de prática) têm sido, em regra, chamando a atenção para aqueles pontos que normalmente estão ausentes dos autores de intervenções ou de webinars. A realidade da aprendizagem muda todos os dias e é naquele sentido, não de volta ao passado. Também com algumas notícias ou artigos que, escolho, como relevantes (a meu ver, e não por outrem). A Europa e, muito particularmente, Portugal, têm na 4RI e na i4.0 oportunidade de colocar a Aprendizagem das suas Pessoas (do berço até ao túmulo, reitero) focando em competências do digital e usando o digital como meio para se aprender mais e melhor. Ora a civilização europeia é confrontando culturalmente pela 1ª vez nos seus Valores mais intrínsecos e pode estar na Educação/Formação/Aprendizagem ao longo da Vida a solução para superar esse desafio. Talvez também aqui (na Educação) os Estados Membros tenham que perder alguma soberania para que se construa uma Visão comum europeia para a ALV e superar o nosso destino. Dinheiro parece não Faltar! a decisão e liderança é que são periclitantes.
Na sua opinião, como
pode a plataforma EPALE potenciar o conhecimento sobre a ALV entre os
Estados-Membros?
Existe consenso de que a plataforma não cumpre tecnicamente padrões de desempenho eficientes. Tem que melhorar muito, também no seu grafismo, acessibilidade e imagem.
Tem que encontrar o "caminho da
pólvora" para ser o local de ação da rede europeia sobre ALV (vejam bem, a
designação é de Adult
Education e isto não é digno de Povos Europeus que se afirmam como de
rompedores de arquétipos). Tem que ser atraente e atrativa.
Lá está, voltemos ao básico: a Epale tem
que ser também um centro da oferta formativa, gratuita, certificada e
reconhecida, por OER (recursos abertos), de Jogos e de gamificação
(a plataforma deve ser exemplar na aplicação), e de centro de Aprendizagem
Máquina sustentada em IA-inteligência artificial que assegure a liberdade do
cidadão europeu escolher o seu percurso de aprendizagem.
E, deve ser, o Centro Europeu das boas
práticas e da ação colaborativa dos agentes de Conhecimento de todos os estados-membros.
É, muito, pois é, mas é agora que se inicia
a caminhada para os Fundos Europeus 2020-2027 e a Epale já existe e ganhou a 1ª
batalha no terreno. Faltam muitas mais e precisa de muitos mais recursos e
Pessoas.
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