CIEJD/Revista Europa N.º 28/29/Janeiro/Dezembro 2011// A Sociedade do Conhecimento/artigo "Novas formas de ensinar e aprender numa sociedade revolucionada pelas TIC pela web"
Revista Europa N.º 28/29-A Sociedade do Conhecimento
artigo
Na sua programação editorial para 2011, o Centro de Informação Europeia Jacques Delors decidiu consagrar um número duplo da sua revista Europa: novas fronteiras ao tema A Sociedade do Conhecimento. As múltiplas reflexões que esta temática sugere revestem-se da maior importância e constituem uma oportunidade para promover o debate, estimulando o interesse para as mudanças profundas que estão a ocorrer neste início do século XXI.
Este artigo trata como as redes colaborativas estão a fazer mudar, também em Portugal, a forma de ensinar e aprender numa sociedade revolucionada pelas TIC e pela web.
Introdução
A Comissão Europeia elegeu na sua estratégia
UE 2020 como Prioridade 1: Crescimento baseado no conhecimento e na inovação.
Os portugueses vão poder participar na mudança do paradigma da aprendizagem ao longo
da vida que está em curso na Europa. Uma revolução? Talvez não, antes uma evolução.
Existe um grupo de pessoas, de que o leitor faz
parte, que vão fazer a diferença nesse processo.
Em 2011/2012 é muito discutida e tratada a problemática das certificações, validações,
creditações das aprendizagens, informais e não
formais. A reforma da formação profissional em
Portugal quase se completa (em relação ao normativo de 2007) com as recentes portarias de mudança na certificação de entidades formadoras, nas
alterações sobre o formador de formadores e nos
registos de formação certificada que conduzem à
caderneta individual de competências.
Uma batalha europeia, em que Portugal vai estar na linha da frente desse combate. Quanto mais
não seja porque somos o país com menos gente
qualificada em toda a União Europeia (UE). Sim,
apesar dos passos de gigante que demos nos últimos 3/4 anos!?
Numa economia do conhecimento, o indivíduo é
o criador do conhecimento, e as relações sociais são
a moeda corrente. Nos dias que correm, esse profissional, em especial os líderes, são os precursores da
utilização das tecnologias sociais e devem reconhecê-las. Estamos numa época de «walking the talk».
O presidente Obama, em julho 2009 (iniciativa
para qualificar cinco milhões de americanos em
http://federalstudentaid.ed.gov/opportunity/
index.html) referia:
«[…] temos a oportunidade de construir uma
nova infraestrutura virtual para complementar a
educação e formação dos community colleges. Vamos apoiar a criação de uma nova linha de código
aberto de cursos para que as faculdades públicas
de todo o país possam dar mais aulas sem a construção de mais salas. Não sabemos para onde esta
experiência nos levará, mas é precisamente por isso
que devemos tentar, porque eu acho que a educação online pode proporcionar uma possibilidade, especialmente para as pessoas que já estão no
mercado de trabalho e desejam atualizar os seus
conhecimentos, sem ter de parar de trabalhar.»
Acentua-se, nesta fase de crise económica que
o país atravessa, a importância de valorizarmos a
aprendizagem ao longo da vida (ALV) e de passarmos das palavras aos atos. É uma janela de
oportunidade que Portugal desfruta e vai valer a
pena se for desta vez que a colocam no topo das
iniciativas, porque fazer mais com menos, exige o
melhor das pessoas!
Sem conexão permanente
não há aprendizagem sistémica.
(Siemens, 2009)
Criar territórios de partilha de novos conhecimentos conduz à inovação.
Com o advento da web 2.0 e das tecnologias sociais, o campo para uma aprendizagem informal,
instantânea cresceu exponencialmente. Claro que
é preciso passar por cima do «campo de urtigas»
e aceitar que pode haver «ervas daninhas que danifiquem o nosso belo relvado verde». Mas não
é assim na aprendizagem formal e em especial
quando ela é feita em sala? Qual o Líder/Gestor/Dirigente satisfeito com os resultados da
Educação/Formação que se tem feito?
Mas como pode um processo de ensino e de
aprendizagem, que difere tão acentuadamente
a partir do que tem sido praticado ao longo de
centenas de anos, manter e dar apoio de qualidade? Quem serão os guardiões da qualidade e
os inovadores de aprendizagem e da avaliação
de design? (ler sobre quality in elearning: www.efquel.org)
Um tipo específico de aprendizagem em rede
(ConnectLearning, Ulf-Daniel Ehlers, 2010), que
se baseia no conetivismo (Siemens, 2006) e no
construtivismo, e as abordagens de aprendizagem situacional fazem mudar os cenários
de aprendizagem. A ênfase migra para os
contextos e ambientes.
O que já se sabe, contudo, é que é possível, até
desejável, alavancar o poder da aprendizagem informal para se alcançarem resultados que podem
ser efetivamente medidos.
Futuro de cenários de aprendizagem? Ninguém sabe, mas se encontrarmos respostas para
as seguintes perguntas, vamos com certeza estar
a construí-lo:
Quais são as competências críticas num mundo da web 2.0? Quem são os alunos da web 2.0?
Como capacitá-los para tirar o máximo partido da
sua rede de aprendizagem? Que novos papéis são
interpretados por atores de aprendizagem? Como
reconhecer e validar a aprendizagem informal
e não formal? E como creditá-la e certificá-la?
O que resulta do investimento português no
Programa Magalhães aponta para aí?
George Siemens – em Changing the System at a National Level, March 14th, 2010 http://www.connectivism.ca/?p=249&cpage=1#comment-31474
partilha connosco as suas ideias sobre o Futuro
da Aprendizagem a partir do estudo de caso Magalhães em Portugal. Ele foca cinco tópicos: Technology; Leadership; Research; Content; Teaching and
Learning. (talvez devesse considerar também em
contexto, ambiente e território de aprendizagem).
His connectivism is achieving us in the target!
Roberto Carneiro(in Expresso, caderno principal, 2 de Junho «Novas Oportunidades: os pontos nos is») escreveu: «A Educação informal e
não formal, e o reconhecimento/acreditação
de competências tácitas adquiridas por via de
esforço pessoal, ocupam hoje o topo da agenda educativa no mundo». E, recentemente, em
Lisboa Jane Hart http://www.c4lpt.co.uk/jane.
html– na conferência e-learning (2011) da Global Estratégias (26 de maio), com apresentação
da rede nacional Pt Learning Working Group,
referiu que a «Learning is a social process whereby the knowledge takes place» e apresentou
um novo elemento o «Accidental learning – you
learn something everyday», referindo inspiração
em Informal learning – invisible process of learning «where the real learning takes place».Jay
Cross – Informal learning, 2007.
E vale a pena recordar as recentes palavras da
Vice-Presidente da Comissão Europeia para a Digital Agenda (Nellie Kroes, em junho de 2011, por
ocasião da 1.ª Digital Agenda Assembly em Bruxelas) «we need to roll out the broadband that can
make every European citizen and business digital».
O papel das redes sociais
na produtividade
A 12 de maio de 2011 a APDSI (www.apdsi.pt)
com apoio da APG (www.apg.pt) lançou um debate em torno da questão das redes sociais: fator
de produtividade, sim ou não? Para o preâmbulo
escreveu-se: «Na última década assistimos ao advento e crescimento dos sítios web das Redes Sociais,
as quais se tornaram espaços de visibilidade e partilha para milhões de pessoas em todo o mundo.
Em Portugal, nos últimos dois anos a utilização
das Redes Sociais massificados, e sítios web como o
Facebook, passaram de “espaços exclusivos dos
jovens” para “espaços de presença incontornável” para profissionais e empresas.»
Uma síntese pode ser apreciada em http://
kmol.online.pt/blog/2011/05/12/evento-impacto-redes-sociais-na-produtividade, elaborado
por Ana Neves, imediatamente a seguir ao evento.
e também por Ricardo Andorinho em http://ricardoandorinho.com/redes-sociais-produtividade-sim-ou-nao/. Ambos foram comentadores/
intervenientes.
Verificou-se (o jornal Expresso desenvolveu,
pela mesma ocasião, uma investigação jornalística) que, em Portugal, ainda são poucos os trabalhos (científicos e empíricos) sobre o tema.
Deu-se muita importância à definição de regras claras de utilização das redes sociais nas organizações, regras essas conhecidas por todos os
colaboradores. Em especial para a administração
pública. Segundo Teresa Salis (INA): […] a própria natureza da atividade de bom número de
organizações da administração pública as coloca
sob o escrutínio permanente de vários atores da
sociedade. Assim, a utilização de redes sociais
no quadro de projetos específicos institucionais
deve ter objetivos claros e assentar numa política de informação e comunicação. Os utilizadores devem saber como atuar em caso de “crise”
e, nesse sentido, é desejável que exista um plano
para a gestão de crises».
No mesmo seminário, Antonieta Rocha referia:
«As redes sociais e plataformas internas congéneres ajudam em três aspetos importantes:
• na criação de uma identidade de pertença
• na construção de coesão organizacional
• na partilha de boas práticas.»
E ainda:
• «O aumento da autonomia dos colaboradores
• a divulgação das competências técnicas de
cada um
• a compreensão de cada colaborador sobre
onde se encaixa na organização.»
Tal caraterizará as organizações 3.0. «Um dos
principais desafios para os líderes do séc. XXI é
criarem “fábricas” de ideias. Para tal os líderes
devem ser capazes de criar aspirações ambiciosas
que apenas podem ser atingidas com o surgir de
novas ideias, abordagens e soluções inovadoras
que ultrapassem paradigmas desatualizados. Isto
significa estar disposto a alargar o nosso conceito de Gestão e Liderança e criar uma Cultura
baseada na Colaboração Criativa, isto é, uma
Cultura onde as ideias circulam, são combinadas
e recombinadas entre si, produzindo um novo
Conhecimento como valor sustentável.» (Luísa
António. Cegoc, 2011.)
Jay Cross (www.jaycross.com) advoga, sobre o
assunto, uma nova abordagem o ROII – return on
investment in interaction e deixa uma nova questão
aos líderes e gestores. Como medir os Resultados dos efeitos de interação do trabalho em rede?
E, James Fowler (http://jhfowler.ucsd.edu/)
no seu recente livro Connected afirma:
A máxima taylorista «can’t measure, can’t manage» não é dogma que oriente decisores da era
do conhecimento. Ela não lhes permite tomar
as decisões certas em ambiente de crise, de incerteza.
Devemos ajudá-los a passar a ponte para o
novo mundo das organizações em rede (e já se
anuncia o advento da «cloud computing» –Towards a cloud computing strategy for Europe: Matching supply and demand na http://
ec.europa.eu/information_society/events/cf/
daa11/item-display.cfm?id=5999). Uma rede
depende de um fator qualitativo: a Confiança,
e é crítico. (Stuart Henshall.)
Medir o retorno do investimento da colaboração em rede é menos tangível do que os
resultados (estáveis e de tarefas ordenadas sequencialmente e por objetivos, avaliados por
check list ou templates duvidosos), que dominam
o sistema baseado na eficiência (produtividade)
da era industrial.
Concluindo, hoje em dia, a eficiência organizacional é definida pelo trabalho colaborativo em
rede, num ambiente social também ele predominantemente dominado pelas redes.
A rede nacional Pt Learning
Working Group
A aprendizagem ao longo da vida deve ser
uma ponte sólida para promover o crescimento
e o fortalecimento do conhecimento, devendo-se
convergir com os esforços europeus no sentido
de uma visão para as novas formas de aprender
com recurso às aprendizagens sustentadas em tecnologia, formais, informais e não formais. Uma
forte cultura de partilha de conhecimento e de
aprendizagem é essencial para garantir o futuro,
promover inovação, flexibilidade, disseminação
e interoperabilidade a nível global.
• A rede nacional Lwg@pt (www.lwgportugal.webnode.pt) é uma rede de parceiros
de desenvolvimento (30 na atualidade)
que, alinhada pelo propósito de estimular
a aprendizagem permanente, pretende
implementar iniciativas e dinamizar boas
práticas de acesso a saberes centrados em
resultados e resolução de problemas. É nossa
visão que é possível «assumir uma posição
de representação na dinamização daquelas
vontades (aprendizagem ao longo da vida,
qualificações dos portugueses/as, inovação
empresarial e de negócios e na internacionalização), focada nas necessidades e interesses das organizações e das pessoas, e no
mundo da língua portuguesa, contribuindo
fortemente para a aproximação aos índices
europeus comparáveis».
• Nasceu com o propósito de promover a
gestão do conhecimento organizacional
e a gestão de negócios, por meio de um
processo de aprendizagem ativo e contínuo
(sistémico), com recurso centrado na webização, nomeadamente da web 2.0 e 3.0, focando na competitividade e visando formar
e desenvolver os talentos, a inteligência e a
liderança nacional.
Esta rede é formada por entidades públicas e
particulares que, no seu conjunto, e tirando partido das competências específicas de cada membro, se encontra empenhada em dinamizar aspetos como:
• Aprendizagem ao longo da vida;
• Inovação organizacional;
• Incentivo à utilização das TIC (nomeadamente em PME);
• Melhoria das qualificações dos portugueses.
É nossa convicção de que através da utilização
de metodologias de distribuição adequada destes
saberes será possível alcançar novas facetas da
competitividade, criando novos produtos e potenciando novos negócios, em especial os que
resultem em bens transacionáveis. As trocas de
saberes e experiências (de informação e conhecimento) afinal é o que faz os cérebros humanos
reagirem a propósito, estimulando a imaginação
para o impulso de resposta pertinente (inovação).
Histórico
Junho|2011
Foi criado o site e saiu a primeira newsletter e foi
refeito o espaço ocupado na RCC – rede comum
do conhecimento cedido pela AMA.
Novembro|2010
Foi votado o funcionamento da rede nacional Lwg@pt entre os seus membros fundadores
tendo-se juntado, entretanto, novos participantes,
alargando a massa crítica e o potencial da rede
para desenvolver as atividades a que se propõe.
25|setembro|2010
Integrado nas conferências sobre Economia
Digital do Portugal Tecnológico, foi feito o lançamento público da rede nacional Lwg@pt.
15 e 16|outubro|2009
Realizou-se Conferência Internacional Creative
Learning e Innovation Marketing em que ganhou
notoriedade a noção de que sem aprendizagem
não acontece nem criatividade nem inovação. Este
foi o ponto de partida da rede nacional Lwg@pt
para a mobilização de um conjunto de parceiros
interessados em dinamizar os objetivos da rede.
15 e 16|outubro|2007
Na IV Conferência Europeia de e-learning realizada em Lisboa para a Presidência Portuguesa
da União Europeia, confirma-se o trabalho de
um grupo de ativististas do conhecimento pela
aprendizagem sustentada em tecnologia.
Está alinhada, e num momento singular, com a
prioridade n.º 1 que a Comissão Europeia traça a
sua estratégia UE 2020 (voltar ao início) e funda-se
na partilha de interesses comuns dos seus parceiros
que se comprometeram através do mesmo documento (Manifesto) e por isso se reporta aos objetivos fundamentais das iniciativas em curso para a
estratégia Europa 2020 e se inspira no Futuro da
Educação/Aprendizagem do estudo prospetivo
na visão para 2025 (http://www.futureoflearning.
eu/) lançado pela Comissão Europeia.
Assume duas particularidades:
• Uma coordenação rotativa semestral;
• Tomar as suas decisões e grupos de trabalho,
com a composição empresas, instituições
públicas, universidades e politécnicos.
A Comissão Europeia está a lançar as suas
Flagship Initiatives para o período de 2013/2020.
Entre elas as 100 medidas a implementar pela:
A rede sente que pode dar um contributo
muito forte neste novo impulso para a sociedade do conhecimento europeia e para Portugal e está alinhada com este propósito, interagindo com outras redes europeias, tais como:
EUCIS (http://www.eucis-lll.eu/index.html);
EFQUEL (http://www.qualityfoundation.org/
index.php?option=com_content&view=frontp
age&Itemid=1&lang=en); ETDF (http://www.
etdf-fefd.eu/en/).; eAPRIL(http://www.eapril.
org/home); EDEN (http://www.eden-online.
org/); EUCEN (http://www.eucen.eu/); EATEL (http://www.ea-tel.eu/); IFTDO (http://
www.iftdo.net/).
Aprender uns com os outros é mais importante do que fazer, e divulgar e disseminar o que se
faz, é a fonte de todo o enriquecimento. A visão
para uma aprendizagem ao longo da vida portuguesa começa a ganhar forma nas organizações
aderentes. É uma fonte de felicidade trabalhar
nesta rede.
Conclusão
No estudo Learning 2.0 – The Impact of Social
Media on Learning in Europe (março de 2010 –
JRC/ipts da Comissão Europeia) verificamos e
renovamos a convicção das grandes potencialidades que a web e sobretudo a web 2.0 nos trouxeram e poderão sem dúvida vir a trazer.
Esta é a hora de o nosso país interiorizar as
constatações deste e doutros estudos, relatórios
e diagnósticos. É possível e podemos alcançá-lo!
Quiçá estará aqui uma outra oportunidade de alavancar as nossas competências!
Melhorando a qualidade e eficiência de produtos e resultados e tornando a aprendizagem ao
longo da vida e a mobilidade dos aprendentes
uma realidade, vai permitir-nos uma cidadania
europeia ativa e de igualdade… nós podemos
chegar lá, como mostram os sinais que levaram
à criação da Rede LWG@pt.
Enfim… muito para refletirmos… e fazermos!
Referências
1. Resolução do Conselho de Ministros n.º
91/2010 – Plano Tecnológico/Agenda Digital 2015.
2. Envisioning Digital Europe 2030: Scenarios for ICT in Future Governance and Policy
Modelling (http://ipts.jrc.ec.europa.eu/publications/pub.cfm?id=3879).
3. The Future of Learning: New Ways to Learn
New Skills for Future Jobs.Results from an online expert consultation (http://ipts.jrc.ec.europa.
eu/publications/pub.cfm?id=3659).
4.http://ec.europa.eu/information_society/digital-agenda/daa/index_en.htm?utm_source=newsroom&utm_medium=newsroom
+item&utm_campaign=daa
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